Segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

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Voltar Relatórios secretos da Abin apontam supostos articuladores do quebra-quebra em Brasília

Relatórios sigilosos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) elencam os supostos “articuladores dos atos intervencionistas” que contestaram, sem provas, o resultado das eleições presidenciais do ano passado que elegeram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e culminaram na invasão às sedes dos três Poderes no dia 8 de janeiro. Os documentos, obtidos pelo GLOBO, indicam que por trás dos atos antidemocráticos, está um grupo formado por produtores rurais e um núcleo de pessoas identificadas como “incitadoras” da depredação de prédios públicos no início deste ano.

O levantamento intitulado “participação de lideranças do agronegócio em atos antidemocráticos e em ações de contestação do resultado eleitoral”, a Abin detalha a atuação do Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA), que reúne produtores rurais, na suposta articulação dos atos.

Segundo o documento 0005/2023 produzido pela Abin em 10 de janeiro, integrantes do MBVA “lideraram” bloqueios de caminhoneiros em novembro do ano passado, em Goiás, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Roraima, com o objetivo de “contestar”, sem provas, a vitória do presidente Lula. O grupo, segundo a Abin, tem à disposição “recursos econômicos para financiar transporte de manifestantes e ações extremistas, como as ocorridas no 8 de janeiro”.

O Movimento Brasil Verde e Amarelo surgiu em 2017, formado majoritariamente por grupos de produtores de soja do Centro-Oeste, e cresceu com os demais segmentos do agronegócio pelo país, especialmente os mais voltados à exportação. Segundo a própria Abin, o MBVA não representa a maioria do setor, tendo papel secundário, e conta com o apoio da Associação Brasileira dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja) para articular atos.

De acordo com a agência, o movimento tem como “general” Antonio Galvan, presidente da Aprosoja. O produtor rural foi alvo de um inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente apoiar atos extremistas e já foi alvo de mandado de busca e apreensão, em 2021. Ao ser intimado para prestar depoimento à Polícia Federal, ele compareceu à sede da corporação em cima de um trator e cercado de manifestantes. Em nota, a Aprosoja disse desconhecer o conteúdo do documento e afirmou que não organizou nem financiou nenhuma das ações antidemocráticas. Galvan não quis se manifestar.

O relatório da Abin ainda cita outro “líder ideológico” do movimento, o advogado e produtor rural Jeferson da Rocha. Nas redes sociais, Rocha publicou um manifesto defendendo a anulação do segundo turno das eleições de 2022 e divulgou uma carta pregando colocar “freios” em membros do Supremo. Rocha negou participação.

“O STF é uma instituição pública de importância fundamental para a manutenção da democracia. Nós sempre repreendemos com veemência qualquer tipo de discurso a favor de ditadura e intervenção militar”, disse.

Em outro relatório, produzido em 17 de janeiro, a Abin identificou um grupo suspeito de ter estimulado as invasões e a depredação aos prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do STF. O documento, chamado de “Segurança Institucional – intervenção federal /detenção não identificada até 26 janeiro”, destaca a participação do reservista do Exército Marcelo Soares Correa, conhecido como cabo Correa, no ato em 8 de janeiro.

Segundo anotações dos agentes infiltrados, durante a caminhada em direção ao Congresso, cabo Correa disse que “o limite do pacífico acabou”. Na interpretação da agência, essa afirmação ecoou a percepção que havia entre os extremistas de que apenas a existência do acampamento em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, “não teria resultado” para provocar uma ruptura institucional defendida pelos golpistas.

O militar da reserva chegou a ser preso pela Polícia Federal após invadir , em 2016, o plenário da Câmara dos Deputados para pedir a “intervenção militar”. Segundo a Abin, ele é um dos líderes dos “Boinas Vermelhas”, uma agremiação formada “por reservistas autônomos que compartilham informação política ideológica semelhante, discurso radical de deslegitimação às instituições e propensão à ação violenta”.

A agência também cita Symon Albino, conhecido como Symon Patriota, e Ana Priscila Azevedo como os outros principais “incitadores” dos atos. Apontado como articulador de uma viagem que levou a Brasília extremistas de Campinas (SP), Symon gravou vídeos fazendo convocações antes de 8 de janeiro e pedindo para o povo se “preparar”. Já Ana Priscila foi alvo de uma operação da Polícia Federal e está presa preventivamente por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Ela gravou vídeos dizendo que queria “colapsar o sistema” e “tomar o poder de assalto”.

O advogado Cláudio Avelar, que defende Ana Priscila, afirmou que ela está presa há mais de cinco meses “sem nenhuma denúncia”:

“Independentemente do que vem sendo dito, não houve golpe e, portanto, não houve golpistas. Ela está sendo investigada porque seria uma incitadora. Ela tem um carisma próprio e, por isso, falava coisas, e as pessoas foram ouvindo”, frisou.

 

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