Segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

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Voltar Febre dos jogos ilegais envolve até crianças e adolescentes e preocupa especialistas

Com cédulas de R$ 50 e R$ 100 em mãos, um influenciador digital de apenas 8 anos posa em seu perfil no Instagram após prometer para seus mais de 2 milhões de seguidores dinheiro fácil com apostas em jogos de azar.

Outra menina, de 13, afirma que nasceu para ser “milionária, e não funcionária” ao compartilhar supostos retornos financeiros da mesma plataforma, que parece hipnotizar com seu estilo de desenho animado e cores vibrantes.

A influência dessas crianças e adolescentes nas redes sociais tem causado preocupação. O Instituto Alana denunciou a empresa Meta, dona do Instagram, ao Ministério Público de São Paulo após identificar dez perfis de influenciadores mirins que promovem sites de apostas para menores. Eles têm entre 6 e 17 anos e são de Alagoas, do Ceará, da Paraíba, do Rio e de São Paulo. Além de recrutar crianças para publicidade, essa teia ilegal de interações já adentrou o ambiente escolar e tem levado ao vício em jogos de azar.

Em grande parte, os chamados publiposts são gravados pelos pais ou responsáveis legais dos menores e associados a sorteios de motos, celulares e dinheiro. Os canais têm entre 200 mil e mais de 9,5 milhões de seguidores, muitos deles também crianças. Os conteúdos de cassino online divulgados nos perfis dos influenciadores mirins costumam ficar disponíveis por 24 horas com um link que diz que a plataforma indicada está pagando para quem desejar apostar.

“É possível ver nas respostas aos posts que inúmeras crianças comentam e são influenciadas. A falta de regularização desses jogos e de fiscalização da Meta contribuem para violação dos direitos. As famílias são a ponta mais fraca, porque todos estão imersos na febre dessas publicidades ilegais”, alerta Maria Mello, coordenadora do Criança e Consumo do Instituto Alana.

Ao reportar as publicidades como fraudulentas no Instagram, o instituto diz ter recebido respostas, em alguns casos, de que os conteúdos não violavam as regras da rede social. A Meta rebateu a informação, em nota, alegando que não permite menores de 13 anos em suas plataformas, salvo em casos de contas gerenciadas por um responsável, e que remove “conteúdos potencialmente voltados a menores de 18 anos que tentem promover jogos online envolvendo valores monetários”. A Promotoria da Infância e Juventude de São Paulo analisa a denúncia do Alana.

“A ideia da aposta é mágica. É visto como um mecanismo de recompensa rápida e fácil que atrai as crianças”, diz Isabel Kahn, professora da faculdade de psicologia da PUC São Paulo.

Os jogos de azar são ilegais e proibidos no Brasil. Já as Bets, casas de apostas esportivas na internet, foram regulamentadas no ano passado. Apesar disso, em ambos os casos, expor menores a atividades ilícitas ou nocivas ao seu desenvolvimento pode ser considerado crime, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, e fere ainda leis de proteção à infância e regras de entidades como o Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar).

De acordo com o psiquiatra Daniel Spritzer, coordenador do grupo de estudos sobre vícios tecnológicos, a publicidade apresenta um impacto direto por apresentar o jogo de azar como uma atividade socialmente desejável e divertida. Isso pode influenciar jovens a verem essas práticas como inofensivas. Além disso, diz o médico, as plataformas promovem uma visão distorcida sobre dinheiro e sucesso.

“Estudos mostram que crianças e adolescentes são de duas a quatro vezes mais vulneráveis do que adultos a desenvolver problemas relacionados a apostas. Os impactos são comportamentos violentos, risco aumentado de abuso de álcool e outras drogas, além de altas taxas de depressão e ideação suicida”, enumera Spritzer. As informações são do jornal O Globo.

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