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Por Redação Rádio Caiçara | 27 de julho de 2022
Ainda que exista um certo distanciamento do torcedor em relação à seleção, a paixão dos brasileiros pelo maior torneio de futebol do mundo continua trazendo otimismo para a população. Uma pesquisa realizada pela Apoema aponta que 71% deles acreditam que o Brasil ganhará o hexa na Copa do Mundo do Catar no fim do ano – a competição vai começar dia 21 de novembro.
Em uma edição de Copa do Mundo fora de época, em novembro e dezembro, a ser realizada pela primeira vez no Oriente Médio, o estudo a que o Estadão teve acesso se aprofundou no que pensam os torcedores fanáticos pela seleção brasileira e pela maior competição de futebol do planeta. A Apoema é uma agência especializada em pesquisas humanizadas para grandes empresas.
De acordo com a pesquisa, 55% dos torcedores apaixonados pela seleção nunca foram ao estádio, mas sonham em acompanhar in loco uma Copa do Mundo. O levantamento expõe que, apesar de muitas vezes a torcida não sair de casa, os brasileiros são dedicados: estudam, analisam e debatem a respeito da seleção, atualmente comandada por Tite. Hoje, 62% desses torcedores apaixonados pelo Brasil afirmam que acompanham e sempre vão acompanhar a equipe nacional, em Copas, amistosos ou qualquer outra competição.
Os brasileiros têm uma íntima relação com a Copa do Mundo ao longo da história do futebol e por alguns fatores específicos, incluindo a popularidade que o futebol tem no País e o fato de a seleção ter sucesso no torneio do qual é a única pentacampeã. Por outro lado, chama a atenção que 48% dos torcedores relatam se sentirem distantes da equipe, basicamente formada por atletas que atuam na Europa.
Reconexão com a torcida
Os pesquisadores ouviram 1 mil torcedores ao longo de cinco meses. Foram quatro etapas, incluindo dados secundários, análise sócio histórica, pesquisa quantitativa com 40 perguntas dispostas em questionários, e a qualitativa, estágio em que foram ouvidos 13 torcedores em diferentes cidades. Os pesquisadores foram às casas de algumas dessas pessoas e se aprofundaram nos questionamentos.
“Nossa vontade era provocar esse resgate do torcedor com o País e com a Copa do Mundo”, explica a fundadora e head de conteúdo da Apoema, Julia Ades. “Foi legal entender qual o significado do ‘torcer’ para essas pessoas. Elas estabelecem uma conexão com a seleção e a torcida é uma forma de elas se sentirem conectadas com os jogadores, como se estivessem jogando junto”, diz.
O trabalho também inclui a produção de um minidocumentário, relatório com análise sócio histórica, linha do tempo da Copa do Mundo, memórias de torcedores com fotos e vídeos, além de uma playlist no Spotify com músicas que se conectam ao Mundial. Um dos mil entrevistados foi o paulista Luiz Carvalho, conhecido como Vasco, nome do time para o qual torce. Ele tem uma forte conexão com a seleção e o esporte no Brasil como um todo, tanto que é um dos fundadores do Movimento Verde Amarelo, uma espécie de torcida organizada que vai a todos os jogos possíveis, não só os de futebol.
“A gente precisa falar mais da torcida brasileira. Sempre senti falta de algo mais profundo e o estudo foi bacana para entender efetivamente o que é essa torcida do Brasil”, opina Carvalho, confiante no título do Brasil no Catar, que, em sua visão, será um propulsor para reaproximar os brasileiros da equipe treinada por Tite – o treinador já avisou que deixa o cargo após a Copa do Mundo, independentemente do resultado da equipe.
“A reconexão da torcida com a seleção passa por diversos pontos, não é uma ação específica, mas se Brasil for campeão do mundo, vai dar um gás ímpar para essa reconexão”, acredita Vasco.
Confraternizações em casa
Outro aspecto da pesquisa exibe a íntima relação da Copa do Mundo com o ambiente residencial: 91% dos brasileiros curtem assistir aos jogos no conforto do próprio lar, ao lado dos familiares e amigos, e 29% organizam a casa para deixá-la mais confortável para o evento. Nessa lógica, 42% dos entrevistados confirmaram que a relação com o futebol começou a ser construída a partir das vivências com seus familiares e 32% dizem que, no período de Copa do Mundo, gostam de se reunir e torcer em grupos com as famílias e os amigos.
“O ato de torcer, por si só, proporciona momentos ao lado de pessoas queridas, que ficam marcados na história de cada um. O evento carrega memória afetiva, tanto para quem já assistiu a vitórias e conquistas quanto para quem só ouviu falar delas, mas sonha em vivenciar essa experiência. É um respiro em meio ao caos do dia a dia”, explica Julia.
A torcida pela seleção brasileira também impacta diretamente os comportamentos de consumo: os jogos movimentam a venda de cervejas e eletrodomésticos, por exemplo, já que o evento está intimamente ligado às confraternizações. Neste ano, 24% dos torcedores pretendem comprar um novo aparelho de televisão para assistir melhor às partidas do torneio no Catar.
Quebra da rotina e de normas sociais
A organização do trabalho das pessoas também é impactada pela realização da Copa do Mundo. É comum deixar os escritórios mais cedo para assistir aos confrontos do Mundial. Em dia de jogos do Brasil, muitas empresas nem trabalham em determinado período. Segundo o estudo, 30% dos torcedores gostam do evento justamente em razão dessa quebra da rotina.
O torcedor se permite descansar emocionalmente daquilo que o angustia. Nesse período, muitos dão uma pausa e param de pensar, por ora, em aspectos que causam sofrimento e preocupação. Os entrevistados afirmaram que o evento é uma oportunidade de se levar menos a sério e abrir espaço emocional para o lúdico se manifestar. “A Copa do Mundo desperta a criança que existe em nós, mas que, podada socialmente, perde seu empoderamento”, explica Julia.
A Copa também se apresenta como uma forma de quebra de regras sociais. O evento potencializa a ocupação da cidade e a “bagunça”. Festas, aglomerações, amigos na calçada, ruas lotadas e tantas outras agitações que acontecem fora de hora caracterizam o evento esportivo no Brasil.
No Ar: Caiçara Confidencial